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  • Ana Paula Farina

Mãe&Filha&Devastação


Há algo de muito particular na relação entre mães e filhas. Segundo Freud, há um intenso apego da filha à mãe que jamais termina de fato e permanece de forma obscura e inacessível à análise.

Trata-se de uma marca do continente negro, de uma zona desconhecida que não passa pelo significante fálico.


A partir do aforismo de Lacan "A Mulher Não existe", compreende-se que não há uma exceção que faça o conjunto do lado feminino, permanecendo não todo referido à norma fálica. Sendo assim, as mulheres precisam ser inventadas uma a uma. Mas a filha espera algo de mais substancial de sua mãe: que ela lhe diga o que é ser uma mulher.


Esta demanda só pode ser atendida pela via do semblante, das máscaras. Quando não é possível agarrar-se às insígnias paternas, e a filha depara-se com o silêncio materno e as máscaras não podem ser transmitidas, o que resta é o campo para devastação.


Assim, neste campo da relação mãe-filha há algo que, por vezes, como nos diz Elizabeth da Rocha Miranda em “Desarrazoadas: devastação e êxtase” (2017),: "denuncia um rapto, roubo de corpos, um arrebatamento que não permite a separação pela via da falta, do impossível de dizer, isto é, da pura pulsão de morte.


(...)

A clínica é vasta a esse respeito e, muitas vezes, inócua, pois não há o que decifrar. Relatos das invasões que afetam o corpo - carinhos exagerados, brigas em que ambas se batem, a impossibilidade de a filha apropriar-se de seu próprio corpo - quase sempre se acompanham de um 'não sei o que acontece', 'quando vi, já tinha feito' ou 'não ligo', e não se dão como queixa. 'É assim. E pronto.'"

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